[Por Luiz Puntel]
De repente, começou o ajuntamento. Sabe como é a curiosidade: o pessoal não pode ver duas pessoas reunidas que já quer saber o que houve, o que não houve, já chamaram a polícia? Alguém ferido? Chama o pronto socorro!
No meio da roda, dois homens sentados frente a frente. Para sermos mais precisos: um homem e um moleque, preocupados com o andamento do combate à sua frente. O senhor-sem-coração move as pedras com desenvoltura, muito à vontade. O povo, além de curioso, gosta de tomar partido e sempre pende pro lado do mais fraco.
- Onde já se viu trucidar o garotinho sem mais nem menos! - Retrucava uma velhinha que assistia apaixonada à disputa de xadrez.
A dama do moleque já tinha ido pro beleléu; os cavalos já tinham levado cartão vermelho e se ele bobeasse em mais um lance, lá ia o rei pro chuveiro.
A torcida já estava irritada com o desfarçamento do senhor-sem-coração: um desalmado, um desnaturado.
O desalmado deu um lance em dama seis do bispo e botou o rei do moleque em xeque. Sorriu contente.
A torcida quase esgoela o velho, mas o moleque reage; ataca com os bispos pelas extremas: o bispo do rei pegando o vácuo do cavalo da dama, o bispo da dama aproveitando o corredor diagonal à sua frente. Tabelam com rapidez e em pouco lances colocam todo o exército inimigo em xeque-mate.
Fulminado, o velho se levanta, resmungando a sua distração.
Nem bem ele saiu, já outro candidato toma assento. Tiram a sorte, o moleque sai com as brancas. Peão quatro do rei, dama três do bispo e quando o adversário pensa em iniciar as aberturas, o jogo terminou.
E veio o próximo, e mais outro e mais outro e aí a torcida já fazia prognósticos. Evidente que não estavam preocupados em saber quem iria vencer, mas sim em qual lance o moleque botaria o adversário beijando a lona.
Com o tempo, o povão pede mais um, fiu fiu fiu, mais um, fiu fiu fiu, e o moleque vai lancetando xeques a torto e a direito. E com euforia da rodinha, todos os transeuntes iam parando.
Mais tarde ele se dava ao luxo de jogar de olhos fechados e ia matando as jogadas de cabeça, visualizando de memória o tabuleiro.
Se percebia que o adversário saía com a defesa holandesa ou siciliana, ele metia um ataque vai-não-vai e saía pela ponta, à la garrincha, e xequemateava em três tempos.
A turma foi ficando enjoada de tanta exibição. O moleque era implacável. Onde já se viu não ter dó dos pobres adversários, e o pior de tudo é que a maioria eram uns velhinhos, coitados.
Chamaram o melhor enxadrista da cidade. O velho sentou sua sabedoria na cadeira e cofiando os bigodes e contando com seu taco, disparou a atacar com os peões, adoidadamente. O moleque não teve dúvidas: reuniu os bispos no canto do tabuleiro e ali mesmo excomungaram o rei adversário. Quando ele ia partir para o mate, alguém parou o carro pela Duque de Caxias e uma voz feminina começou a chamá-lo:
- Mequinho, meu filho, vamos para casa. Está na hora de você jantar.
- O moleque se abriu em mil desculpas, gente! Mamãe está chamando, tenho que ir embora. Desculpem, tá!
A turma não perdoou:
- Medroso, pápápá! Medroso, pápápá! Medroso, pápápá!
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Para ouvir:
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!
10 comentários:
cenas urbanas
(l)
aaah e essa musica é mt boaa..
as musicas q vc poe aqui
geralmente são muita massa
;**
pessoas são estranhas!
mas adorei a história!
bjs
aDorei
hehhhhhehehhehehe
Um viva às mulecagens todas!
aaah, ele era um moleque obediente :P
Nunca vi alguém narrar uma partida de xadrez como um jogo de futebol ou algo parecido, se é que me entendeu. Risos. ADOREI!
Ah, BELA escolha de música, hein? De frase, então... :)
Beijo meu.
Muito bacana o texto. Acho o máximo quem consegue jogar xadrez direito. Juro que já tentei, não sei se foi a minha paciência ou a minha inteligência que não deixaram (a falta delas rsrsrrs)....
Bju moço! Bom fim de semana!!!
Tem um ser na minha familia viciado em xadrez e te digo: "ele não é normal",rs
eu torci pros velhinhos desde o começo! haha!
como é que vc coloca as músicas no blog?
Tipo assim, onde que na duque o pessoal joga xadrez?
Rs
Ótimo post
Abraços
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